Constelação familiar

A Terapia Sistêmica Fenomenológica [Constelação Familiar] é uma abordagem desenvolvida pelo alemão Bert Hellinger e que nos últimos 15 anos vem encantando o mundo pela capacidade de encontrar soluções inovadoras para os problemas familiares de ordem sistêmica.

Todos nós estamos ligados por uma rede de ligações invisíveis com o Universo e, independente de termos consciência disto ou não, sofremos as conseqüências disso. A esta rede de interligação e inter-relação damos o nome de sistema. Qualquer movimento dentro do Sistema afeta as suas partes.

É semelhante à imagem de um móbile. Quando a brisa atinge uma parte do móbile, promove-se um movimento em todas as demais partes. Algumas são afetadas pelo movimento de uma forma mais intensa, de acordo com a proximidade ou alinhamento ao movimento inicial.

Bert Hellinger é filosofo, psicoterapêuta e viveu durante 16 anos na África do Sul como missionário, dirigindo uma escola. Durante este período, entrou em contato com variados tipos de sofrimento humano e isto o sensibilizou para a observação e a busca de alternativas para auxiliar as pessoas.

 

De volta à Alemanha estudou Psicanálise, Análise Transacional, Terapia Primal,Terapia Sistêmica entre outras, e foi construindo o seu próprio caminho.

 

Observando as relações humanas constatou que todo sistema tem algo que o une e o mantém vivo, na perspectiva de continuidade. Da mesma forma que o corpo humano é formado por diversos órgãos, células e o fluído da vida que une e possibilita as relações e as conexões entre tudo é o sangue, Bert percebeu que aquilo que une emantém o sistema em direção à vida é o fluxo do Amor.

E percebeu que este fluxo se constitui numa Ordem, que ele chamou de Ordem do Amor e corresponde a uma determinação que impulsiona todo e qualquer ser humano dentro do sistema.

Dentro desta Ordem temos leis que regem o sistema visando preservá-lo e que são observáveis em todos os pontos do sistema, em qualquer tempo e sob quaisquer circunstâncias.

Quando estas leis são desrespeitadas, por qualquer razão, cria no sistema um bloqueio do fluxo do amor e na tentativa de restabelecer a ordem quebrada, o sistema busca o reequilíbrio.

Isto se assemelha ao nosso corpo que, quando ameaçado, o sistema imunológico reage, buscando criar mecanismos para restabelecer o equilíbrio em nome da vida. A vida é a expressão de algo maior que deve ser preservado.

Em nome da vida, os sistemas buscam se preservar, como se obedecessem à uma consciência que rege a todos, de uma forma inconsciente e invisível. As manifestações dessa consciência podem ser percebidas pelos seus efeitos no grupo familiar através de várias gerações.

Quando o fluxo do amor é interrompido, o sistema cria um bloqueio, que chamamos de emaranhamento. O emaranhamento atinge as pessoas que pertence a este sistema, de forma inconsciente e tende a se repetir por gerações dentro do grupo.

Nestas repetições sistêmicas, o individuo é como que instrumento para que a ordem se restabeleça. A presença de determinados sintomas dentro do grupo, representado por alguém do sistema pode expressar a tentativa inconsciente do restabelecimento da ordem do amor.

 

Esta compreensão pode ser estendida a família, aos grupos e a sociedade, porque cada grupo é a expressão da união com outros grupos, que formam as comunidades e estas por sua vez formam a sociedade, com sua cultura e sua história através dos tempos.

O que os nossos ancestrais fizeram à Terra e à Natureza, nós estamos respondendo hoje, independente de concordarmos com o que foi feito. E o futuro da sociedade e da humanidade depende do que estamos fazendo hoje.

A vida a que todos estamos ligados vem de muito longe e todos estamos conectados por fios invisíveis, que nos mantém pertencendo a um grupo e inter-relacionados com muitos outros grupos.

 

O nosso contato inicial com esta dimensão Universal é a família, e os pais são os instrumentos para que a vida se manifeste, independente da consciência desta dinâmica.

Um casal quando se encontra, cada um vem de um grupo, que por sua vez já está inter-relacionado com outros e assim sucessivamente a teia invisível que une os grupos se faz manifesta. Cada participante dessa grande teia tem sua individualidade, mas traz consigo a influência de tudo que acontece dentro do sistema a que  pertence. É como se estivesse no seu DNA a herança de uma questão sistêmica que pode se manifestar através de um membro do grupo. Leis que regem as ordens do amor

A primeira lei que podemos observar é que toda pessoa, em qualquer época, sob quaisquer circunstâncias tem o direito de pertencer à um grupo, a uma família. Todo e qualquer ser humano nasce do encontro de duas pessoas e, independente da consciência que rege este encontro, o fruto representa a manifestação da vida e pertence a este grupo, mesmo que isto não seja reconhecido.

Mesmo aquela alma que por alguma razão já não está presente fisicamente no sistema, porque teve um destino trágico ou curto, ela também pertence a este grupo. Esta lei é básica e quando alguém por qualquer razão é excluído, o sistema reage e cria um emaranhamento e membros que vem depois estão sujeitos a ocupar o lugar do excluído, como instrumentos de reequilíbrio do sistema, numa dinâmica compensatória.

No coração do representante da exclusão, de forma inconsciente, mora o desejo de reconhecimento a alguém que sofreu com a exclusão do grupo.  É o mecanismo sistêmico reagindo a algo estranho dentro do seu corpo. Aqui não cabem julgamentos, porque em geral as exclusões são frutos de julgamentos. A dinâmica sistêmica não comporta nenhum julgamento, de cunho religioso, moral ou social. O direito de pertencer é inalienável e incondicional.

Todos que estiveram antes no sistema, quer sejam pais, filhos, avôs, bisavôs, ex relacionamentos amorosos podem ser representados por membros atuais do sistema.  A solução para tal emaranhamento é o reconhecimento, o acolhimento e o respeito aos excluídos, onde são novamente inseridos no grupo, quer estejam vivos ou mortos.

A segunda lei que observamos dentro dos sistemas é o equilíbrio entre dar e receber. É uma espécie de contabilidade sistêmica. É o exercício de plantar e colher nas relações humanas. O que é feito por um participante de uma relação promove uma ação e reação, que desencadeia um resultado. É uma lei sistêmica que move o encontro entre as pessoas.

Quando alguém faz algo de bom para o outro, este tende a querer retribuir, numa forma de equilibrar a relação, pois quando esta “contabilidade” não está equilibrada o indivíduo que recebe mais e não consegue retribuir, sente-se devedor e não se mantém na relação. Não há campo de intimidade e, portanto, o fluxo do amor não flui.

Esta lei pressupõe também que o equilíbrio entre dar e receber é uma compensação que mantém as relações entre as pessoas equilibradas e, quando isto acontece, os participantes sentem-se bem e tendem a aumentar a troca, promovendo um circuito relacional positivo, de luz nas relações.

Mas, por outro lado, quando alguém faz algo que não é positivo para o outro, para que a relação se restabeleça e possa ter continuidade, é importante que o receptor da ação possa retribuir com algo a altura do que recebeu. Segundo Bert Hellinger, se há o interesse em se manter na relação, é importante que seja um pouco menos, para que haja espaço do restabelecimento de algo positivo. Caso contrário, se alimenta a relação no seu aspecto sombrio, onde alguém faz algo ruim, o outro retribui com algo pior, aumentando a troca num circuito de sombra, ao contrário da anterior que se constitui como um circuito de Luz.

Muitas relações amorosas terminam porque esta contabilidade não se equilibra e alguém sente que está sendo prejudicado na sua oferta de amor.

Novamente esta lei pode ser estendida à compreensão das relações no pequeno grupo familiar, nas comunidades, na relação empresarial e na sociedade. O que distingue cada uma destas instâncias acima citadas, é a intensidade do vínculo presente, pois na relação familiar o tipo de ligação é indissolúvel, enquanto nas demais, é algo que pode ser temporal. A terceira lei que observamos diz respeito a ordem e a hierarquia no sistema. Todo indivíduo tem o seu lugar no sistema quer esteja vivo ou morto, e quando o lugar desta pessoa não é respeitado gera um desequilíbrio na ordem, produzindo um emaranhamento.

Se um filho acha que o pai não é suficientemente capaz de desenvolver o seu papel e julga a ação do mesmo e se coloca numa posição acima deste, subverte a ordem e esta reflete no sistema.

Dentro das leis sistêmicas quem vem primeiro no sistema tem prevalência sobre quem vem depois. Isto se justifica na medida em que a vida que chegou até nós passou antes por nossos antepassados.

É assim também com a Natureza, o que fizeram a Terra anteriormente reflete nos seus filhos que vem depois. Se olharmos para a nossa sociedade em que o desrespeito aos habitantes que chegaram antes na Terra vem de muitas gerações, podemos compreender o que as gerações do presente sofrem, independente da classe social a que pertence. Nossos ancestrais não são respeitados, as gerações do presente sofrem as conseqüências.

Existem nações que se colocam no lugar de ditar normas para outras, desrespeitando culturas, costumes e crenças, intitulando-se donas da verdade. Do ponto de vista sistêmico isto é um posicionamento que provoca um desequilíbrio nas relações.

Voltando para o grupo familiar, podemos reconhecer o lugar de cada um, independente do que fizeram ou deixaram de fazer, pois o lugar que ocupam é um fato. Quando tomamos esta atitude ficamos em Paz conosco mesmo e ocupamos com mais liberdade o nosso lugar, independente do que recebemos.

Muitas vezes julgamos que recebemos pouco ou então que não foi tão bom aquilo que recebemos, mas dizia o filosofo Sartre: “Não importa o que fizeram a você, importa o que você faz do que fizeram a você” Esta atitude nos liberta para sermos nós mesmos e tomarmos a vida nas próprias mãos, escolhendo o nosso caminho, com respeito aos que vieram antes. O trabalho de Constelação familiar busca o restabelecimento da ordem, a partir da reconciliação com tudo que existiu e existe dentro do sistema, gerando desta forma a Paz.

É um trabalho que pode promover uma verdadeira transformação no indivíduo, refletindo na sua ação nos grupos e na sociedade.